“Eu não vou conseguir” – Quando comecei a subir montanhas (para iniciantes)

Recentemente aceitei fazer uma trip completamente fora dos padrões que estava acostumada: fui pro Deserto do Atacama por 15 dias para fazer trekkings e descobrir como uma iniciante em montanhas se comporta nessas situações e até onde eu conseguia chegar. A ideia era subir 4 vulcões / montanhas, e me preparar para o desejado Lincancabur.

Se você morre de vontade de fazer trilhas ou subir um vulcão, mas acha que não consegue, vai até o final desse texto, tá? Ele é pra você!

 

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Licancabur

Licancabur!

 

O bicho tem quase 6.000 metros de altitude, e te toma 2 dias para subir e descer. Eu, que sempre fui de cidade e faço spinning indoor — porque nem de bicicleta sei andar — me joguei nesse desafio justamente para conhecer meus limites, e porque não achava que seria tão difícil, sinceramente falando. Quando você é iniciante em montanhas não tem a menor ideia de como a frase “um passo de cada vez” pode fazer tanta diferença na sua vida.

Tenho certeza que foi um trilheiro que disse isso a primeira vez, não é possível.

 

É preciso uma super aclimatação e mais preparo do que a gente pensa, porque por mais que você treine bastante na sua rotina normal, corra e faça mil exercícios, o esforço de subir uma montanha e caminhar por 6, 7 ou 10 horas seguidas em altitude é completamente diferente. Pega. Dói. Falta ar.

 

Dunas do Valle de la murte

Descida em dunas para treinar!

 

Muitas vezes você se sente um derrotado, principalmente quando está todo mundo lá na frente e você está na lanterninha. Eu só conseguia pensar no porquê de todo mundo estar melhor que eu, mesmo outras pessoas que eram iniciantes em montanhas também. “Eu não sou feita pra isso, está claro!”

 

Sim, gente, eu era a pior do grupo.

 

Eu era a que sempre andava mais devagar, a que sentia mais dor, a que tinha mais medo de subir nas pedras, e a que tinha mais medo ainda quando mandavam DESCER das pedras. Decidi várias vezes que ia morar na montanha, pois era a solução mais prática pra minha falta de movimento em alguns pontos da trilha.

 

iniciante em montanhas

Imagina só a descida disso? Eu era o pavor em pessoa!

 

Foram 6 dias seguidos de caminhada, totalizando quase 60 km com dias de mais de 6 horas de caminhada e subidas antes de iniciarmos o descanso. Foi duro para uma iniciante em montanhas? Meu filho, que pergunta besta! 😂

 

Em muitos momentos eu sentia que ia morrer e a frase “eu não vou conseguir” parecia um Boomerang na minha cabeça durante o trajeto. Mas, gente, quando eu conseguia chegar no topo e finalizar o trekking do dia, a sensação de conquista era tão incrível que eu esquecia toda a dor INSUPORTÁVEL que eu estava sentindo há 10 metros abaixo. Só queria partir pra próxima montanha.

 

Topo Quimal Atacama

No Topo a 4278m de altitude!

 

Parece coisa de louco, né? E olha, eu tenho minha parcela de desequilíbrios, mas esse nunca foi um deles! hahaha

 

E você descobre que isso vicia! Exercício vicia, trekking vicia, paisagens lindas viciam. Existem tantos lugares incríveis que só podem ser visitados depois de horas de caminhada, às vezes, dias! Eu finalmente consegui entender o porque algumas pessoas passam 1 semana inteira caminhando pra chegar a um lugar. A recompensa é inexplicável.

 

E não é só a recompensa da paisagem, não. Antigamente eu ia pra alguns lugares só pra fazer foto, confesso. Quem nunca? rs Mas agora já sinto vontade de explorar meus limites e me esforçar para chegar lá. Quero sentir como meu corpo responde ao esforço que estou fazendo ele passar, e mesmo depois das dificuldades chegar lá. Falando assim parece meio masoquista, né? Mas definitivamente é uma sensação que só se conhece de perto.

 

Atacama Chile

E quando você chega tão cansada que só faz foto da amiga? rs

 

A cada dia que passava eu fui vendo como a evolução é inevitável: hoje você morre nos primeiros 4kms, depois você morre quando chega nos 9km e na próxima você sobe uma montanha a 5000 m de altitude em 2 horas, enquanto todo mundo faz em 3 ou 4h. Aí você para e pensa: Wooooooow! Fui eu mesma que fiz isso? Nenhum helicóptero imaginário me levou lá pra cima, não? 😂

 

Foi assim minha experiência no Vulcão Lascar, que chega a 5590m de altitude, e estava com uma sensação térmica de -10 graus e neve pra todo lado. Subi o Lascar lá para o 10º dia de viagem, depois de ter sofrido outras inúmeras trilhas. Mas nada mal para uma iniciante em montanhas, não é?

 

Lascas iniciante em montanhas

Pegamos no Lascar neve e muito frio. Sensação térmica de -10 graus!

 

Mas mesmo quando cheguei lá em cima depois desse marco-histórico-da-história-das-patricetes, eu segui mentalmente me questionando: “Beleza. Você tá se achando A trekkeira que sobe rápido, mas você sabe que a descida é seu ponto fraco, né? Você vai rolar Lascar abaixo!”

 

Eis que desço como um máquina em 50 minutos.

 

Caí? Lóooooogico que caí. Mas na primeira queda que tive pensei  “ahhh, já que caí na neve, vamos descer de ski bunda!” Me diverti como nunca e essa queda me deu ainda mais confiança para descer sem pestanejar nas partes de terra. Se cair, levanta. “Você não vai rolar a montanha” – que sempre foi meu maior pavor.

 

Tudo está na sua cabeça! Eu ouvi essa frase toooooodos os dias de trilha enquanto estava atrás de todo mundo ou chorando porque caí mais de 10 vezes em uma descida, e me dava a maior raiva quando alguém dizia isso! “O psicológico conta mais que tudo. Você tem que ter confiança e persistir” – diziam.

 

Meninas trekking no Atacama

As loucas que enfrentaram isso comigo. As amizades se fortalecem, com certeza! <3

 

Que óooooodio! Será que as pessoas acham que não estou tentando? Mas no fundo, a gente não está. hahaha Juro. Quando você realmente toma confiança mental é o momento que você olha pra trás e pensa: é, eu não estava tentando de verdade.

É claro que quando eu subi o Lascar, eu já tinha me preparado bastante, não era mais tãaaaao iniciante em montanhas e comecei a trilha com plena consciência que eu estava preparada para aquilo. Fui confiante e deu tudo certo. E quando faltou o ar eu pensei “você está respirando, sim, puxa mais fundo esse ar aí e segue o barco”.

 

Era o que todo mundo estava falando antes para eu pensar, mas não adianta mil pessoas repetirem: nós só pensamos quando estamos prontos, não tem jeito.

 

O objetivo final, que era subir o Licancabur, vai ficar pra próxima. Realmente era demais pro que meu corpo conseguia, mas saí de lá me sentindo vitoriosa e com certeza que superei diversos medos.

 

Se você está pensando em se aventurar em uma montanha nova e não tem experiência nisso, uma coisa posso te dizer com certeza: confiança e experiência só chegam depois de muitas gotas derramadas, de suor e de lágrimas. Não tem caminho fácil, no short cuts. O que importa é você ir até lá e fazer. Tentar, chorar, cair, mas chegar lá em cima.

 

Hoje eu deixei de ser iniciante em montanhas? Eu ainda não diria isso. Mas te garanto que sou uma pessoa diferente de quando cheguei.

 

 

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6 Comentários

  1. Adorei o seu texto, mais ainda pq eu me vi nele! Em vários aspectos: sobre o psicológico, sobre achar que já está no limite e, ainda, nem chegou nele e sobre ser guiada pelo incrível Elias. hahah
    Vulcão Lascar ficou de fato muito marcado!

  2. Adorei o seu texto, mais ainda pq eu me vi nele! Em vários aspectos: sobre o psicológico, sobre achar que já está no limite e, ainda, nem chegou nele e sobre ser guiada pelo incrível Elias. hahah
    Vulcão Lascar ficou de fato muito marcado!

    • Oi Camila, ai que legal, você trilhou com o Elias? Nossa, ele é demais!
      Quando escrevi esse texto eu já tinha noção de que ele era foda, mas não tinha noção do quanto. Depois fiz a trilha Ausangate no Peru, de 5 dias, e a cada passo eu via como evolui por causa desse treinamento com o Elias, e como eu nunca conseguiria estar fazendo aquilo se não fosse por ele.
      Fico muito feliz que gostou do texto <333

      Beijo grande!
      Thais